terça-feira, 15 de junho de 2010

Vitórias e erros devem ser compartilhados por toda equipe



Quando uma equipe alcança ou mesmo supera as metas que foram estabelecidas pela organização, facilmente é possível encontrar os profissionais com um sorriso no rosto dos profissionais. Afinal, o desafio foi vencido e tudo é razão para comemorar a conquista. No entanto, quando ocorre um "erro" e isso compromete o alcance das diretrizes traçadas, é normal que a equipe sinta um abalo. Nesse último caso, a incerteza de ter agido corretamente, a auto-estima, o receio de fracassar novamente são sentimentos que podem surgir.
No entanto, quando o "erro" bate à porta de uma equipe é exatamente nesse momento que as pessoas precisam manter a "cabeça fria", identificar e analisar os fatores que contribuíram para o insucesso. O líder tem papel fundamental nesse contexto e cabe a ele passar clareza e serenidade para os membros de sua equipe, afinal outros desafios surgirão e precisarão ser superados. De acordo com Floriano Serra, psicólogo, consultor organizacional e que dedicou toda a sua vida à área de Recursos Humanos, não há heróis solitários, a ação em equipe é a única alternativa para a excelência em produtividade no trabalho coletivo. "A comunicação entre os membros da equipe deve ser transparente e objetiva, sem mal-entendidos ou fofocas", menciona.
Floriano Serra é um dos palestrantes do 3º ConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos) - evento promovido pelo RH.com.br - www.convirh.com.br, que acontece no período de 14 a 29 de maio. Na ocasião, ele ministra a palestra "O Papel do RH para Qualidade de Vida no Trabalho", onde aponta os principais fatores que justificam os investimentos das empresas na QVT. Confira a entrevista na íntegra e reflita muito bem sobre essa temática, afinal todos precisam estar cientes de como a vida de um profissional pode mudar quando a empresa passar a ter uma visão holística dos seus talentos humanos.

 RH.COM.BR - Quais as principais características que fazem parte de uma equipe?
Floriano Serra - Vários aspectos caracterizam a equipe de alta performance. Talvez o mais importante deles seja o respeito às diferenças individuais, já que cada membro de uma equipe tem estilo, ritmo, experiências, formação e padrões comportamentais diferentes entre si. Apesar disso, cada membro deve manter e ter respeitada sua individualidade. A equipe deve saber transformar essas diferenças em complementação e não em confronto, habituando-se a compartilhar as diferentes competências. Outra coisa importante, a comunicação entre os membros da equipe deve ser transparente e objetiva, sem mal-entendidos ou fofocas. A relação entre eles deve ser de lealdade e apoio, sem jogos ou disputas de poder. Por fim, o bom humor é decisivo. A verdadeira equipe trabalha com entusiasmo, motivação e alegria e é sempre com este estado de espírito que ela enfrenta os desafios de cada dia.

RH - Uma equipe só existe graças à presença de um líder eficaz?
Floriano Serra - Qualquer equipe rende mais quando conta com um líder eficaz. De certa forma, a função do líder de uma equipe assemelha-se a de um técnico de futebol. Existem 11 craques talentosos em campo, mas é fundamental que o técnico maximize e otimize esses talentos, dando-lhes um ritmo adequado, um posicionamento estratégico correto, um padrão de atuação, disciplina, motivação e um forte espírito de conjunto, ou seja, a filosofia do "nós". Caso contrário, cada jogador jogaria para si mesmo e nunca passaria a bola para que outro fizesse o gol. O líder faz papel semelhante, mantendo a coesão, a unidade e o foco. Sem um bom líder, uma equipe pode dispersar e sub-utilizar os talentos dos seus membros. Mas é preciso lembrar que, a qualquer momento, dependendo das circunstâncias, qualquer membro de uma equipe madura pode assumir a liderança, ainda que situacionalmente. Este é também um papel do líder formal: preparar outros líderes e não apenas meros seguidores.

RH - Em sua opinião, o que motiva os profissionais a formarem uma equipe?
Floriano Serra - A maturidade que dá ao profissional o sentimento e a consciência de que muitas cabeças pensam melhor do que uma só. Não mais existem heróis solitários, a ação em equipe é a única alternativa para a excelência em produtividade no trabalho coletivo. Mais uma analogia com o futebol: só existem artilheiros, porque outros jogadores elaboram uma sucessão de jogadas anteriores que resultam no passe que se constituirá em gol. O futebol é um ótimo exemplo da importância do trabalho em equipe. Um outro aspecto que motiva o profissional para o trabalho em equipe é a consciência de algumas limitações pessoais que podem ser supridas pelos conhecimentos dos outros colegas - o que não é vergonha alguma, pois ninguém é perfeito. Profissional algum sabe tudo e nenhuma empresa espera ter em seus quadros um super-homem ou uma mulher maravilha que faça tudo sozinho. Na verdade, os profissionais individualistas estão perdendo espaço e oportunidades no mercado ou na própria empresa onde trabalham.

RH - Uma equipe pode ser estruturada, mesmo sem que exista uma política de Gestão de Pessoas na empresa?
Floriano Serra - A existência de líderes numa empresa não depende da existência de políticas, dizendo como ele deve gerir as pessoas. Não se criam líderes por normas e políticas. Estas são apenas instrumentos importantes, para que o líder exerça o seu papel, amparado por diretrizes formais. Assim, mesmo que uma empresa não cultive o trabalho em equipe ou que não possua uma política que o incentive, qualquer líder, por iniciativa própria, pode e deve criar esse espírito em sua equipe, treinando e desenvolvendo seu grupo para isso. Portanto, é mera desculpa esfarrapada a alegação de qualquer gestor de que não consegue organizar e integrar sua equipe e motivá-la para o coletivo porque a empresa não tem uma política formal de Gestão de Pessoas. Numa situação dessas, ele pode e deve criar sua própria "política".

RH - Geralmente, as empresas destacam suas equipes quando essas conquistam metas, superam obstáculos. De que maneira o Sr. comemoraria a vitória de uma equipe?
Floriano Serra - Toda vitória é conquistada pela equipe, ainda que um ou outro membro possa ter tido algum destaque nessa vitória, por alguma circunstância. É ponto pacífico que todo resultado numa empresa é obtido pelo trabalho da equipe, ainda que alguns dos seus membros não "apareçam", seja porque trabalhem nos bastidores, seja porque pertencem a outras áreas da organização. Por isso, toda vitória deve ser comemorada sempre com toda a equipe. Pessoalmente, sempre fui contrario ao estabelecimento de premiações individualizadas, tipo "o melhor" disto ou daquilo. Inclusive, a existências de "estrelas" numa equipe pode até gerar um efeito contrário ao que a empresa espera, pois alguns membros podem sentir-se "esquecidos", sem ter o merecido reconhecimento. A própria equipe já sabe quem são seus membros mais qualificados e os admiram, os apóiam e os respeitam por essa consciência.

RH - As tradicionais comemorações como, por exemplo, um churrasco é eficaz para marcar a vitória de uma equipe?
Floriano Serra - O churrasco é sempre uma ótima maneira de comemorar as vitórias de uma equipe. Ele promove um clima alegre, descontraído, informal - bem ao gosto da maioria dos brasileiros. Ao som de músicas e cantorias, colaboradores e gestores podem integrar-se ainda mais, sem a parede da formalidade habitualmente criada pela hierarquia e que está presente no dia-a-dia. É um momento de válvula de escape, de se comentar orgulhosamente as dificuldades vencidas, as criativas estratégias usadas e assim, de "causo em causo", os colegas vão eliminando as tensões e pressões comuns a todos os desafios. Portanto, sou claramente pró-churrasco para a comemoração de vitórias.

RH - Se uma equipe conquista sucesso, tudo é um mar de rosas. No entanto, quando não se alcançam as metas esperadas, muitos profissionais sentem as consequências negativas no ambiente de trabalho. Uma "derrota" ou um "erro" deve ser compartilhado por todos os membros de uma equipe, na mesma proporção quando tudo está caminhando bem?
Floriano Serra - Não há equipes imbatíveis. Em muitas ocasiões, até por razões que independem da sua competência como é o caso da ainda presente crise econômica global. Qualquer equipe está sujeita a não atingir as metas programadas. Portanto, ganhar e perder faz parte do jogo dos resultados de qualquer empresa. Se a equipe se esforça, mostra garra e ainda assim não chega lá, então deve ter seu esforço respeitado e ser cumprimentada e estimulada a superar-se na próxima "rodada". Na ocasião, todos, em conjunto, devem analisar e tentar descobrir as causas do insucesso. É fundamental levantar sugestões e alternativas corretivas ou preventivas. Assim como a vitória é fruto de um esforço grupal, a "derrota" também deve ser atribuída ao grupo, sem apontar-se culpados ou vilões. Uma análise fria e racional é o melhor caminho para a recuperação. No entanto, se claramente houve "corpo mole", indiferença ou má vontade da equipe, então a conversa terá que ter um tom mais assertivo, mais forte - ainda que não deva conter ameaças na sua mensagem.

RH - Como esse compartilhamento de "erros" deve ser conduzido na prática, para que a equipe retome o estímulo e busque novas conquistas?
Floriano Serra - A pouco respondi que sou contrário à eleição do "melhor" em uma equipe. Da mesma forma, não concordo que se eleja "o pior". Quando uma equipe falha, todos falharam - uns mais outros menos, mas o que importa é que resultado final não foi atingido. Todo o grupo deve ser chamado e convidado pelo líder a fazer uma autocrítica franca e honesta e a apontar soluções, para que os resultados sejam melhores da próxima vez. Isso mostra respeito e confiança do líder em sua equipe. Além disso, nenhum erro deve ser alvo de punição se resultou de uma tentativa de acerto. Se estas tentativas forem punidas, deixarão de existir e, assim, institui-se a cultura de "trabalhar para não errar", ao invés de trabalhar para acertar.

RH - Qual o primeiro passo que um gestor deve dar, ao ver que sua equipe não alcançou os objetivos esperados?
Floriano Serra - O líder deve reunir todos os membros da equipe e, com serenidade, de forma transparente e democrática, reunir dados e informações para identificar as causas. Fatores de mercado? Falta de Treinamento? Recursos insuficientes? Pessoal não qualificado? Pouco empenho? Produto ou serviço não competitivo? O primeiro passo, portanto, é, juntamente com a equipe, identificar as causas do insucesso. Só assim poderão ser adotadas medidas corretivas. Em seguida, deve-se criar ou rever os sistemas de acompanhamento e controle dos desempenhos individuais, para que correções possam ser feitas à medida que erros venham a ocorrer. Com essa providência, no meio do caminho, já será possível saber se, no ritmo da equipe, o resultado esperado está correndo o risco de não ser atingido - e assim haverá tempo hábil de serem feitas correções de rota.

RH - Nesse momento, o feedback é uma ferramenta indispensável ao processo?
Floriano Serra - O feedback é uma ferramenta absolutamente indispensável a qualquer momento. Sem ele, a equipe não terá a noção clara de como se saiu. O feedback é um instrumento altamente positivo ao proporcionar ao profissional a oportunidade de saber onde precisa melhorar. Ao contrário do que muitos gestores ainda pensam, o feedback não tem por finalidade apontar falhas e deficiências. Por agir assim, é que muitos gestores criam um clima de tensão na equipe quando falam em dar feedback. O verdadeiro feedback é aquele que, de forma profissional e positiva, procura fornecer ao funcionário informações relativas aos aspectos do seu desempenho que podem ser melhorados. Há uma enorme diferença entre dizer ao colaborador: "Você é muito fraco nisso" ou "Você pode melhorar ainda mais naquilo". Mas, atenção: o feedback não é para ser usado só nos momentos de "derrota". Os responsáveis pelas vitórias também precisam de feedback - que, neste caso, tem o valor de um reconhecimento e isso é altamente gratificante e motivador.

RH - Um momento de "fracasso" pode fortalecer a equipe?
Floriano Serra - O fracasso pode mexer com os brios dela, pode mexer com a auto-estima dos seus membros. Nenhum profissional, nenhuma equipe gosta de perder. Ela sabe que esse resultado negativo vai repercutir negativamente em toda a empresa e, eventualmente, até fora dela. Além disso, a derrota fere a auto-estima do profissional. O líder deve aproveitar essas ocasiões de "fracasso" para motivar a equipe a reagir, a dar a volta por cima, demonstrando claramente sua confiança de que ela é capaz. E se a equipe sentir que pode contar com o apoio da liderança, certamente desenvolverá um esforço especial para fazer jus a essa confiança. Todo campeão já foi à lona e nem por isso deixou de ser campeão. Não se pode fugir das crises, mas se pode vencê-las.

RH - Quando o fracasse faz-se presente, de que maneira o profissional de RH deve atuar para dar respaldo ao gestor e à equipe que passam por um momento delicado?
Floriano Serra - Nessas ocasiões, o papel do RH deve estar em plena sintonia com o do líder. O RH deve colocar-se à disposição do líder e da equipe para, em conjunto, avaliar e identificar as causas do insucesso e propor programas de treinamento e desenvolvimento corretivos ou preventivos. O RH deve endossar junto à equipe a confiança que esta merece e a compreensão de que, se houve falhas, podem ser perfeitamente corrigidas ou evitadas. O RH sabe que está lidando com pessoas e que pessoas erram e acertam em decorrência de inúmeros fatores, alguns dos quais involuntários. Cabe-lhe ajudar a identificar esses fatores, juntamente com a liderança da equipe, e acompanhar de perto a eficácia ou não das alternativas propostas. Uma postura positiva e otimista do RH terá influência decisiva no moral da equipe e na missão do líder.Quando uma equipe alcança ou mesmo supera as metas que foram estabelecidas pela organização, facilmente é possível encontrar os profissionais com um sorriso no rosto dos profissionais. Afinal, o desafio foi vencido e tudo é razão para comemorar a conquista. No entanto, quando ocorre um "erro" e isso compromete o alcance das diretrizes traçadas, é normal que a equipe sinta um abalo. Nesse último caso, a incerteza de ter agido corretamente, a auto-estima, o receio de fracassar novamente são sentimentos que podem surgir.
No entanto, quando o "erro" bate à porta de uma equipe é exatamente nesse momento que as pessoas precisam manter a "cabeça fria", identificar e analisar os fatores que contribuíram para o insucesso. O líder tem papel fundamental nesse contexto e cabe a ele passar clareza e serenidade para os membros de sua equipe, afinal outros desafios surgirão e precisarão ser superados. De acordo com Floriano Serra, psicólogo, consultor organizacional e que dedicou toda a sua vida à área de Recursos Humanos, não há heróis solitários, a ação em equipe é a única alternativa para a excelência em produtividade no trabalho coletivo. "A comunicação entre os membros da equipe deve ser transparente e objetiva, sem mal-entendidos ou fofocas", menciona.
Floriano Serra é um dos palestrantes do 3º ConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos) - evento promovido pelo RH.com.br - www.convirh.com.br, que acontece no período de 14 a 29 de maio. Na ocasião, ele ministra a palestra "O Papel do RH para Qualidade de Vida no Trabalho", onde aponta os principais fatores que justificam os investimentos das empresas na QVT. Confira a entrevista na íntegra e reflita muito bem sobre essa temática, afinal todos precisam estar cientes de como a vida de um profissional pode mudar quando a empresa passar a ter uma visão holística dos seus talentos humanos.

 RH.COM.BR - Quais as principais características que fazem parte de uma equipe?
Floriano Serra - Vários aspectos caracterizam a equipe de alta performance. Talvez o mais importante deles seja o respeito às diferenças individuais, já que cada membro de uma equipe tem estilo, ritmo, experiências, formação e padrões comportamentais diferentes entre si. Apesar disso, cada membro deve manter e ter respeitada sua individualidade. A equipe deve saber transformar essas diferenças em complementação e não em confronto, habituando-se a compartilhar as diferentes competências. Outra coisa importante, a comunicação entre os membros da equipe deve ser transparente e objetiva, sem mal-entendidos ou fofocas. A relação entre eles deve ser de lealdade e apoio, sem jogos ou disputas de poder. Por fim, o bom humor é decisivo. A verdadeira equipe trabalha com entusiasmo, motivação e alegria e é sempre com este estado de espírito que ela enfrenta os desafios de cada dia.

RH - Uma equipe só existe graças à presença de um líder eficaz?
Floriano Serra - Qualquer equipe rende mais quando conta com um líder eficaz. De certa forma, a função do líder de uma equipe assemelha-se a de um técnico de futebol. Existem 11 craques talentosos em campo, mas é fundamental que o técnico maximize e otimize esses talentos, dando-lhes um ritmo adequado, um posicionamento estratégico correto, um padrão de atuação, disciplina, motivação e um forte espírito de conjunto, ou seja, a filosofia do "nós". Caso contrário, cada jogador jogaria para si mesmo e nunca passaria a bola para que outro fizesse o gol. O líder faz papel semelhante, mantendo a coesão, a unidade e o foco. Sem um bom líder, uma equipe pode dispersar e sub-utilizar os talentos dos seus membros. Mas é preciso lembrar que, a qualquer momento, dependendo das circunstâncias, qualquer membro de uma equipe madura pode assumir a liderança, ainda que situacionalmente. Este é também um papel do líder formal: preparar outros líderes e não apenas meros seguidores.

RH - Em sua opinião, o que motiva os profissionais a formarem uma equipe?
Floriano Serra - A maturidade que dá ao profissional o sentimento e a consciência de que muitas cabeças pensam melhor do que uma só. Não mais existem heróis solitários, a ação em equipe é a única alternativa para a excelência em produtividade no trabalho coletivo. Mais uma analogia com o futebol: só existem artilheiros, porque outros jogadores elaboram uma sucessão de jogadas anteriores que resultam no passe que se constituirá em gol. O futebol é um ótimo exemplo da importância do trabalho em equipe. Um outro aspecto que motiva o profissional para o trabalho em equipe é a consciência de algumas limitações pessoais que podem ser supridas pelos conhecimentos dos outros colegas - o que não é vergonha alguma, pois ninguém é perfeito. Profissional algum sabe tudo e nenhuma empresa espera ter em seus quadros um super-homem ou uma mulher maravilha que faça tudo sozinho. Na verdade, os profissionais individualistas estão perdendo espaço e oportunidades no mercado ou na própria empresa onde trabalham.

RH - Uma equipe pode ser estruturada, mesmo sem que exista uma política de Gestão de Pessoas na empresa?
Floriano Serra - A existência de líderes numa empresa não depende da existência de políticas, dizendo como ele deve gerir as pessoas. Não se criam líderes por normas e políticas. Estas são apenas instrumentos importantes, para que o líder exerça o seu papel, amparado por diretrizes formais. Assim, mesmo que uma empresa não cultive o trabalho em equipe ou que não possua uma política que o incentive, qualquer líder, por iniciativa própria, pode e deve criar esse espírito em sua equipe, treinando e desenvolvendo seu grupo para isso. Portanto, é mera desculpa esfarrapada a alegação de qualquer gestor de que não consegue organizar e integrar sua equipe e motivá-la para o coletivo porque a empresa não tem uma política formal de Gestão de Pessoas. Numa situação dessas, ele pode e deve criar sua própria "política".

RH - Geralmente, as empresas destacam suas equipes quando essas conquistam metas, superam obstáculos. De que maneira o Sr. comemoraria a vitória de uma equipe?
Floriano Serra - Toda vitória é conquistada pela equipe, ainda que um ou outro membro possa ter tido algum destaque nessa vitória, por alguma circunstância. É ponto pacífico que todo resultado numa empresa é obtido pelo trabalho da equipe, ainda que alguns dos seus membros não "apareçam", seja porque trabalhem nos bastidores, seja porque pertencem a outras áreas da organização. Por isso, toda vitória deve ser comemorada sempre com toda a equipe. Pessoalmente, sempre fui contrario ao estabelecimento de premiações individualizadas, tipo "o melhor" disto ou daquilo. Inclusive, a existências de "estrelas" numa equipe pode até gerar um efeito contrário ao que a empresa espera, pois alguns membros podem sentir-se "esquecidos", sem ter o merecido reconhecimento. A própria equipe já sabe quem são seus membros mais qualificados e os admiram, os apóiam e os respeitam por essa consciência.

RH - As tradicionais comemorações como, por exemplo, um churrasco é eficaz para marcar a vitória de uma equipe?
Floriano Serra - O churrasco é sempre uma ótima maneira de comemorar as vitórias de uma equipe. Ele promove um clima alegre, descontraído, informal - bem ao gosto da maioria dos brasileiros. Ao som de músicas e cantorias, colaboradores e gestores podem integrar-se ainda mais, sem a parede da formalidade habitualmente criada pela hierarquia e que está presente no dia-a-dia. É um momento de válvula de escape, de se comentar orgulhosamente as dificuldades vencidas, as criativas estratégias usadas e assim, de "causo em causo", os colegas vão eliminando as tensões e pressões comuns a todos os desafios. Portanto, sou claramente pró-churrasco para a comemoração de vitórias.

RH - Se uma equipe conquista sucesso, tudo é um mar de rosas. No entanto, quando não se alcançam as metas esperadas, muitos profissionais sentem as consequências negativas no ambiente de trabalho. Uma "derrota" ou um "erro" deve ser compartilhado por todos os membros de uma equipe, na mesma proporção quando tudo está caminhando bem?
Floriano Serra - Não há equipes imbatíveis. Em muitas ocasiões, até por razões que independem da sua competência como é o caso da ainda presente crise econômica global. Qualquer equipe está sujeita a não atingir as metas programadas. Portanto, ganhar e perder faz parte do jogo dos resultados de qualquer empresa. Se a equipe se esforça, mostra garra e ainda assim não chega lá, então deve ter seu esforço respeitado e ser cumprimentada e estimulada a superar-se na próxima "rodada". Na ocasião, todos, em conjunto, devem analisar e tentar descobrir as causas do insucesso. É fundamental levantar sugestões e alternativas corretivas ou preventivas. Assim como a vitória é fruto de um esforço grupal, a "derrota" também deve ser atribuída ao grupo, sem apontar-se culpados ou vilões. Uma análise fria e racional é o melhor caminho para a recuperação. No entanto, se claramente houve "corpo mole", indiferença ou má vontade da equipe, então a conversa terá que ter um tom mais assertivo, mais forte - ainda que não deva conter ameaças na sua mensagem.

RH - Como esse compartilhamento de "erros" deve ser conduzido na prática, para que a equipe retome o estímulo e busque novas conquistas?
Floriano Serra - A pouco respondi que sou contrário à eleição do "melhor" em uma equipe. Da mesma forma, não concordo que se eleja "o pior". Quando uma equipe falha, todos falharam - uns mais outros menos, mas o que importa é que resultado final não foi atingido. Todo o grupo deve ser chamado e convidado pelo líder a fazer uma autocrítica franca e honesta e a apontar soluções, para que os resultados sejam melhores da próxima vez. Isso mostra respeito e confiança do líder em sua equipe. Além disso, nenhum erro deve ser alvo de punição se resultou de uma tentativa de acerto. Se estas tentativas forem punidas, deixarão de existir e, assim, institui-se a cultura de "trabalhar para não errar", ao invés de trabalhar para acertar.

RH - Qual o primeiro passo que um gestor deve dar, ao ver que sua equipe não alcançou os objetivos esperados?
Floriano Serra - O líder deve reunir todos os membros da equipe e, com serenidade, de forma transparente e democrática, reunir dados e informações para identificar as causas. Fatores de mercado? Falta de Treinamento? Recursos insuficientes? Pessoal não qualificado? Pouco empenho? Produto ou serviço não competitivo? O primeiro passo, portanto, é, juntamente com a equipe, identificar as causas do insucesso. Só assim poderão ser adotadas medidas corretivas. Em seguida, deve-se criar ou rever os sistemas de acompanhamento e controle dos desempenhos individuais, para que correções possam ser feitas à medida que erros venham a ocorrer. Com essa providência, no meio do caminho, já será possível saber se, no ritmo da equipe, o resultado esperado está correndo o risco de não ser atingido - e assim haverá tempo hábil de serem feitas correções de rota.

RH - Nesse momento, o feedback é uma ferramenta indispensável ao processo?
Floriano Serra - O feedback é uma ferramenta absolutamente indispensável a qualquer momento. Sem ele, a equipe não terá a noção clara de como se saiu. O feedback é um instrumento altamente positivo ao proporcionar ao profissional a oportunidade de saber onde precisa melhorar. Ao contrário do que muitos gestores ainda pensam, o feedback não tem por finalidade apontar falhas e deficiências. Por agir assim, é que muitos gestores criam um clima de tensão na equipe quando falam em dar feedback. O verdadeiro feedback é aquele que, de forma profissional e positiva, procura fornecer ao funcionário informações relativas aos aspectos do seu desempenho que podem ser melhorados. Há uma enorme diferença entre dizer ao colaborador: "Você é muito fraco nisso" ou "Você pode melhorar ainda mais naquilo". Mas, atenção: o feedback não é para ser usado só nos momentos de "derrota". Os responsáveis pelas vitórias também precisam de feedback - que, neste caso, tem o valor de um reconhecimento e isso é altamente gratificante e motivador.

RH - Um momento de "fracasso" pode fortalecer a equipe?
Floriano Serra - O fracasso pode mexer com os brios dela, pode mexer com a auto-estima dos seus membros. Nenhum profissional, nenhuma equipe gosta de perder. Ela sabe que esse resultado negativo vai repercutir negativamente em toda a empresa e, eventualmente, até fora dela. Além disso, a derrota fere a auto-estima do profissional. O líder deve aproveitar essas ocasiões de "fracasso" para motivar a equipe a reagir, a dar a volta por cima, demonstrando claramente sua confiança de que ela é capaz. E se a equipe sentir que pode contar com o apoio da liderança, certamente desenvolverá um esforço especial para fazer jus a essa confiança. Todo campeão já foi à lona e nem por isso deixou de ser campeão. Não se pode fugir das crises, mas se pode vencê-las.

RH - Quando o fracasse faz-se presente, de que maneira o profissional de RH deve atuar para dar respaldo ao gestor e à equipe que passam por um momento delicado?
Floriano Serra - Nessas ocasiões, o papel do RH deve estar em plena sintonia com o do líder. O RH deve colocar-se à disposição do líder e da equipe para, em conjunto, avaliar e identificar as causas do insucesso e propor programas de treinamento e desenvolvimento corretivos ou preventivos. O RH deve endossar junto à equipe a confiança que esta merece e a compreensão de que, se houve falhas, podem ser perfeitamente corrigidas ou evitadas. O RH sabe que está lidando com pessoas e que pessoas erram e acertam em decorrência de inúmeros fatores, alguns dos quais involuntários. Cabe-lhe ajudar a identificar esses fatores, juntamente com a liderança da equipe, e acompanhar de perto a eficácia ou não das alternativas propostas. Uma postura positiva e otimista do RH terá influência decisiva no moral da equipe e na missão do líder.

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