terça-feira, 15 de junho de 2010

O amplo leque das dinâmicas de grupo


Para garantir a sobrevivência no mercado, as organizações precisam investir em novas tecnologias ou perdem espaço para a concorrência e isso, na prática, torna-se um caminho que pode levar ao fracasso do negócio. Contudo, de nada adianta ter acesso a equipamentos de “ponta” se a empresa não contar com profissionais que dêem o melhor de si e que estejam alocados em funções onde possam apresentar uma performance satisfatória.
Diante da necessidade de colocar “as pessoas certas para os locais certos” e, conseqüentemente, atender às necessidades das empresas, a área de Recursos Humanos recorre a ferramentas que revelem determinadas competências, que trabalhem situações vivenciadas no dia-a-dia das organizações e podem prejudicar o desempenho dos colaboradores, a exemplo dos conflitos entre equipes. Um recurso muito utilizado no meio organizacional são as chamadas dinâmicas de grupo que possuem um “mundo amplo” e do qual fazem parte os jogos, as simulações, as vivências propriamente ditas e os estudos de caso, os famosos cases.
De acordo com Izabel Failde, consultora em desenvolvimento pessoal e organizacional, e autora do “Manual do Facilitador para Dinâmicas de Grupo”, lançado pela Papirus Editora, as dinâmicas são instrumentos de ampla aplicação, pois podem ser adaptados aos mais diversos públicos, objetivos, locais e recursos. No entanto, os subsistemas de seleção e treinamento ainda são os "campeões" de utilização dessas valiosas ferramentas.
“Em seleção, por exemplo, os cases - também chamados de provas situacionais - têm sido amplamente utilizados. Em treinamento, além dos programas comportamentais que já usam o instrumento, os que envolvem conhecimentos técnicos também têm feito uso das técnicas. Isso é excelente, pois torna os eventos mais envolventes, ágeis, reflexivos, lúdicos. E quem disso que treinamento técnico tem que ser chato?”, questiona Izabel Failde.
A utilização das dinâmicas de grupo no ambiente corporativo é ampla, mas existem algumas restrições ligadas, principalmente, ao público-alvo. Antes de tudo, é preciso que as pessoas participantes da dinâmica sejam respeitadas, uma vez que alguns profissionais podem se sentir expostos ou até mesmo constrangidos.
Um exemplo comum acontece com os gestores de primeiro nível - diretores, superintendentes, gerentes "seniores", pois muitos desses profissionais sentem-se ameaçados pelos próprios colegas de trabalho e pela alta competitividade evidenciada no meio em que atuam. Alguns desses gestores, comenta Izabel Failde, têm verdadeiro pavor de participarem de atividades que envolvam dinâmicas de grupo. “Por isso, as dinâmicas devem ser introduzidas paulatinamente, sempre que houver uma possibilidade: reuniões semanais, café com o presidente, após um almoço de negócios, em momentos de descontração e integração. Passo a passo os gestores tendem a aceitar e reconhecer a importância das técnicas”, diz a consultora.
Quando questionada se a área de T&D tem aproveitado o potencial máximo das dinâmicas de grupo, Izabel Failde cita que é possível ver de tudo no mercado - desde distorções na escolha das técnicas e aplicação, falhas no processamento da aprendizagem até à otimização máxima de cada atividade. As disparidades envolvem, principalmente, despreparo do facilitador, pois não basta apenas conhecer a técnica, é preciso que ela seja o melhor instrumento para uma determinada atividade, considerando-se o público-alvo, o local, o tempo e os recursos instrucionais desenvolvidos adequadamente. Essas análises ajudam o profissional a se sentir seguro na condução da atividade. Além disso, o próprio facilitador deve ser assertivo, empático, saber ouvir, conhecer e respeitar o ritmo dos participantes, conhecer profundamente a organização, para falar o mínimo.
Vale ressaltar que todas as áreas organizacionais podem fazer uso dessas técnicas. Há atividades para os mais diferentes momentos e objetivos como, por exemplo, integração, interação, energização, solução de problemas, planejamento, foco em resultados, relacionamento interpessoal, entre outros. Os gestores que não tiverem preparo para conduzir as atividades devem recorrer aos profissionais de RH. Mesmo os chamados "vitalizadores", exercícios que ajudam a despertar, a energizar, a animar os participantes, devem ser escolhidos criteriosamente e aplicados adequadamente.
“O pior que pode ser dito sobre as dinâmicas de grupo é que essas técnicas são brincadeiras ou oba-oba. São instrumentos poderosos e devem ser preservados. Um deslize pode inviabilizar a utilização das técnicas por longos períodos dentro das organizações”, alerta a consultora, ao lembrar que como a Gestão de Pessoas se faz com relacionamentos interpessoais, empatia, compreensão mútua, competências complementares, comprometimento, foco em resultados, existem técnicas específicas para cada um desses objetivos. Por sua plasticidade a dinâmica de grupo tona-se um excelente instrumento de sensibilização e conscientização quando o objetivo de sua aplicação está voltado para gerir talentos humanos.
É interessante lembrar que apesar de oferecer um amplo leque de trabalho no campo organizacional, a aplicação periódica dessas técnicas não é tão simples. Mesmo que a utilização das dinâmicas seja diária, as mudanças observadas serão pequenas ou até nulas, dependendo do público-alvo. As transformações só se estabelecem de dentro para fora do indivíduo, quando ele realmente quer, vê motivo e pode mudar. Os novos comportamentos e as atitudes ocorrem apenas quando a pessoa escolhe esse caminho.
Uso inadequado – As aplicações e as escolhas inadequadas das dinâmicas podem trazer conseqüências desastrosas. Do ponto de vista do indivíduo, por exemplo, aparecem a superexposição, a diminuição do autoconceito e da auto-estima, sentimentos de rejeição e inadequação. Em relação ao ângulo do instrumento, o pior que pode acontecer é a desqualificação das técnicas.
“No Orkut e outros sites de grupos existem comunidades chamadas ‘Odeio Dinâmicas’. Os relatos são terríveis e, ao mesmo tempo, constituem-se ótimas fontes de aprendizado para o facilitador. Aparecem desde resistência dos participantes - porque alguém disse que dinâmica de grupo era uma roubada - até detalhes da condução e atividades selecionadas que dão frio na barriga, para dizer pouco. Qual objetivo se quer alcançar ao solicitar que candidatos ‘andem de quatro’ ao redor de uma sala? Nem é preciso conhecer o contexto para saber que a escolha da atividade é mais do que inadequada”, alerta Izabel Failde.
Para a consultora, as técnicas só se tornam "poderosas" quando são corretamente selecionadas, dentro do contexto organizacional, dos objetivos e das necessidades. Toda atividade precisa ter motivos para ser aplicada. Esses objetivos, por sua vez, são provenientes de ações pró-ativas ou reativas, advindas de um diagnóstico individual, setorial, grupal ou organizacional. Aplicar uma determinada atividade simplesmente porque está na moda, é fácil, engraçada ou legal, não tem o menor propósito técnico.
Além disso, o ideal é que toda dinâmica de grupo seja aplicada inicialmente em um "grupo piloto", também chamado de "grupo alfa", "laboratório", "pré-teste". Essa prática possibilita, além da segurança do facilitador na condução da atividade, observação das reações dos participantes, utilização de algumas variações da atividade, verificação que identificam se os recursos instrucionais - textos, planilhas - foram adeqüadamente elaborados. Em suma, deve-se conhecer o maior número de variáveis e hipóteses possível antes da aplicação de qualquer atividade, para alcançar os objetivos propostos.
Por fim, Izabel Failde dá alguns conselhos para o profissional de RH que vai aplicar dinâmicas de grupo pela primeira vez. “Prepare-se. Leia muito, experimente, tente, treine, reveja, altere, conheça o alcance e os limites da técnica. Seja seguro, assertivo, empático, dinâmico, auto-motivado, aberto ao novo, flexível, adaptável, perseverante, próximo. Conheça tudo o que puder sobre sua empresa como, por exemplo, negócio, produtos, mercado, colaboradores, gestores, missão, visão, valores, estratégias”, resume.

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