terça-feira, 15 de junho de 2010

Sabem da última?


Desde que retornei para Teófilo Otoni - cidade localizada em Minas Gerais - há dois meses, com frequência escuto algumas pessoas se queixarem sobre a sua indisposição em relação às fofocas. Não muito distante daqui, ouvia estas mesmas queixas nas grandes empresas. Diferente de como usualmente é chamada, no universo empresarial, a fofoca é conhecida como "rádio peão", "rádio corredor", "corredor press". Enfim, além de não lhe faltar apelidos, tem sido um ato tão corriqueiro que muita gente o faz sem se dar conta.
Mas, há algo realmente intrigante. Se a fofoca incomoda tanto, por que está em todo lugar? Porque apesar de incomodar a vítima, ela reforça laços afetivos entre os seus usuários e faz com que estes formem pequenos grupos. Uma vez fazendo parte de um grupo, as pessoas tendem a sentir-se mais confiantes.
Então, é possível dizer que quanto mais uma pessoa fala sobre a vida alheia, mais insegura ela pode ser? Sim, isso é possível. O sentimento de insegurança leva a pessoa a acreditar que os outros estão contra ela, falam dela o tempo todo ou não a aceitam como ela realmente é. Sendo assim, a pessoa se "filia" a um grupo e este a faz sentir mais forte, mais confiante e consequentemente mais querida.
Além do mais, quando uma pessoa faz fofoca sobre a secretária que namora o seu gerente ou sobre o arquiteto que tem um caso com o cliente, ela consegue avaliar se os seus valores estão corretos e se são aceitos socialmente. José Angelo Gaiarsa, em seu livro Tratado Geral sobre a Fofoca afirma: "a fofoca está intimamente ligada à insatisfação que as pessoas sentem em relação às próprias vidas".
No mundo corporativo, independente se a fofoca é real (quando o colega de trabalho espalha um boato sem se preocupar que isso vá expor a carreira da pessoa) ou se é inventada (quando se apimenta ou cria um problema na empresa, só para atrair a atenção para si) ela é uma fofoca. Especialmente no ambiente de trabalho, tal hábito pode paralisar a sua carreira, por mais que tenha competência. Indiferentemente se você diz "eu ouvi dizer" ou "estão comentando" a sua postura ética pode ser colocada à prova diante dos colegas e da chefia, porque é uma atitude que pode causar uma queda no desempenho de uma área ou destruir uma equipe.
Saiba que além da competência técnica, as boas maneiras podem dar um empurrão em sua carreira profissional. É o que demonstra uma enquete realizada no site da Revista Você S.A. em dezembro passado: 88% das 480 pessoas que responderam à pesquisa acreditam que "profissionais atentos às regras de etiqueta têm mais chance de crescer e se dar bem na carreira". E isso é tão sério que para livrar os seus povos deste mal, muitos textos islâmicos proíbem as pessoas de contar e escutar fofocas. Mas se você ainda não se convenceu, leia o terceiro livro da Bíblia, Levítico, onde se lê: "Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo" (Levítico 19:16, 17).
Saiba que se ao líder cabe o papel de criar um ambiente eticamente saudável aos seus liderados, a fim de que estes realizem as atividades com comprometimento e sinergia, ao liderado cabe a responsabilidade de fazer a sua parte. Por outro lado, se você se sente vítima de muitas fofocas, evite confidenciar-se sobre as suas vontades: trocar de cargo, desligar-se da empresa ou qualquer comentário negativo sobre fornecedores, clientes, colegas de trabalho ou chefias. Assim, pode evitar surpresas desagradáveis e evitar que quando forem falar de você não mencionem o famoso: "sabem da última?".

Nenhum comentário:

Postar um comentário